Aqui no Rio de Janeiro ir a um bom restaurante, ainda mais se for sofisticado ou metido a isso, é quase sempre sinônimo de sentir o meu bolso severamente lesado (fraco custo x benefício). E se o jantar for "harmonizado", regra geral, significa dois dedos de vinho na taça, sendo que se você pedir mais está arriscado que o sommelier, com sorriso amarelo, diga que o vinho é para "degustação" -- como se isso justificasse a indelicadeza de servir tão pouco vinho. No fundo, a gente sabe que o interesse com isso é o lucro fácil, e as nossas custas. Isso também acontece em pretensiosas degustações pela cidade maravilhosa, que tanto adoro. Felizmente, na Mesa do Chef do Cipriani tudo foi espetacular. Esse restaurante se situa no Copacabana Palace, hotel mais tradicional do Rio e, para mim, muito mais agradável que o pretensioso Fasano (o do Rio de Janeiro). O Cipriani passou por recente remodelação, tornando-se mais moderno e suave, sem perder a maravilhosa vista para a piscina principal do hotel. Mas aqui estamos falando do jantar harmonizado (Mesa do Chef). Trata-se de uma mesa exclusiva (para até seis pessoas) dentro da refrigerada cozinha do estabelecimento. O novo Chef se chama Orini, é italiano legítimo, simpático e prepara próximo aos comensais as porções dos pratos a serem degustados, todos fartos e de bons a excelentes. Não tem espuma e tampouco fumaça. É comida de verdade! E muito saborosa! Éramos seis grandes amigos. Cheguei a doze pratos, todos concluídos e apresentados pelo chef. O recorde de nossa mesa foram treze, mas nos falaram que teve ocasião em que o comensal passou de vinte. E tudo isso muito bem harmonizado e sem pagar um centavo a mais. No início foi espumante geladíssimo, depois vinhos brancos variados. Já os vinhos tintos ficavam na mesa, à disposição da gente, e eram trocados quando acabavam. E ainda teve o vinho doce. Maravilha. O preço por pessoa é de R$550,00, incluindo gratificação (um garçom à disposição da mesa). E o vinho objeto do meu blog? Bem, esse Chianti clássico aí de cima assumiu o papel de coadjuvante dessa estupenda refeição (estupenda em todos os sentidos). Quando falamos em degustação de comida, o vinho deve ser um bom coadjuvante, ou seja, não pode brigar com os pratos servidos. O nosso amigo acompanhou bem as massas e os pratos de carne. É um vinho de pouco corpo, leve no aroma e paladar. Não senti álcool, e o dito apenas respirou uns minutinhos na garrafa. Boa acidez, bons taninos. Enfim, tudo certinho para o papel de ótimo coadjuvante. Certamente pode assumir, em outras ocasiões, papel de maior destaque, já que é fácil e agradável de beber.
Aroma - Leve e atraente, remetendo a frutas vermelhas (sem excessos) e a algo terroso. Pouco além disso, tal como a maioria dos Chianti Clássicos.
Sabor - O principal trunfo desse Chianti é que no apaladar ele acompanha muito bem diversos pratos italianos, como massas com molho de queijo e carnes vermelhas e algumas brancas. Fácil de beber, de gostar, de querer reabastecer a taça. Pouco corpo, mas não chega a ser sem graça. Aliás, esse amigo é acima da média de um Chianti clássico. Há vezes que um bom vinho é aquele que, com dignidade, assume o papel despretensioso de coadjuvante em um jantar. Essa é função do nosso amigo aí. Honestíssimo e pronto para ser consumido.
Vinícola - Rocca dele Macie (Toscana, Itália).
Quanto paguei - um dos vários vinhos incluídos no jantar (foram um espumante, dois brancos, dois tintos e um doce -- tudo à vontade e com reposição de garrafas!). No site da importadora Decanter encontrei essa belezinha por R$124,90. Mas em 2011 estava custando R$ 75,00 na mesma Decanter ( http://omelhorvinho.uol.com.br/vinhos/view/chianti_classico_tenuta_santralfonso_2007_2). Será que agora, com o dólar baixando, as importadoras que repassaram o aumento da moeda americana também diminuirão os preços, com o dólar caindo???
Nota - 8,0.
Concordo plenamente! Parabéns pelo blog Marcel.
ResponderExcluirVale, Milena! Espero que gostem do meu blog. Estou curtindo muito.
ResponderExcluirO responsável pelo nosso jantar delicioso foi o chefe Nicola Finamore, que deixou a cozinha poucas semanas depois para entrada do Chef Luca Orini. O jantar e os vinhos foram excelentes. As companhias, melhores ainda! :)
ResponderExcluirE esse chef novo, na veja rio de 10/11, disse que "achei muito incômodo ficar cozinhando com os clientes conversando tão próximo" (pág. 31). Acho que aproveitamos muito bem o Nicola, que além de craque na cozinha foi muito simpático.
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